Baseado em um conto do Stephen King, “A colheita maldita” é um filme de terror que se passa em um ambiente rural, em estradas isoladas, milharais sufocantes e uma cidade fantasma. É nesse ambiente que o filme cria uma atmosfera perturbadora ligada à milho, muito milho, que nos é apresentado a ideia de que a inocência das crianças pode ser corrompida por fanatismo e violência.
Acompanhando um casal fazendo uma viagem pelo interior, que deu o azar de acabar em uma cidade aparentemente abandonada pelos adultos, e pra melhorar com crianças que seguem um culto religioso obscuro. Mesmo tendo uma ambientação bem legal, com milho pra todo lado, o ritmo da narrativa é irregular, com cenas estendidas mais do que deveriam, o que deixou o suspense repetitivo e cortando um pouco da imersão.
Apesar de não se esperar muito do filme em questões de roteiro e efeitos especiais (estavam bons para época em que o filme foi produzido), a obra soube explorar o fanatismo, isolamento, perda da ordem social e as diversas formas de matar usando milho. “A colheita maldita” é um terror mais conceitual do que gráfico, apostando na sugestão e desconforto. Se você quer assistir um filme com crítica social, terror e elementos sobrenaturais ligados a milho, aqui temos uma boa opção.
“A colheita maldita” mostra como a manipulação pode levar as pessoas ao extremo, logo de cara vemos as crianças matando os adultos da cidade, tudo liderado por Isaac. Com um discurso religioso, temos Isaac como um profeta, e Malachai sendo a personificação da brutalidade física, e juntos lideram as crianças para o fanatismo da divindade do milharal. No ambiente de fanatismo que aprisiona todos, inclusive o casal protagonista, que por azar acabaram se tornando alvos da seita. Com essa dinâmica entre inocência das crianças corrompida e fé distorcida temos o que deixa o filme interessante, e não a quantidade absurda de milho e como tem referência a milho por toda parte no filme, sem deixar de ter milho em um quadro de cada cena.
Na revelação da entidade que vive no milharal o filme usa efeitos especiais que envelheceram bem mal, o que pra época da produção deve ter sido o melhor efeito especial que conseguiram, mas acabou ficando bem artificial, tanto que destruiu o clímax sobrenatural e diminuindo a tensão trabalhada durante o filme. “A colheita maldita” não apostou em violência gráfica exagerada, mas sim na tensão psicológica constante, e essa escolha reduz o impacto do filme para quem gosta de gore.
Embora "A Colheita Maldita" possa enfrentar limitações técnicas características dos anos 80 e um clímax enfraquecido por efeitos visuais ultrapassados, sua relevância persiste no impacto de seus temas. O conceito de uma comunidade infantil movida por fanatismo religioso e pela promessa de uma entidade maligna gera um terror que ultrapassa o sobrenatural, abordando medos universais: a desintegração da ordem social, a manipulação através da fé e a violência justificada por crenças distorcidas. Além de ser um filme de monstros, ele funciona como uma metáfora sobre extremismo e irracionalidade coletiva, evidenciando que o verdadeiro terror não reside no que se oculta no milharal, mas nas ações que o ser humano é capaz de cometer em nome de uma divindade ou ideologia. Essa mescla de estranhamento, crítica simbólica e atmosfera inquietante é o que faz a obra permanecer relevante e suscitar discussões quatro décadas após sua estreia.
