Tin e Tina é um filme de terror psicológico espanhol, que se passa nos anos 80, explorando temas de perda e fé. O casal principal Lola e Adolfo decidem adotar os gêmeos depois do casal sofrer um aborto e descobrir que não podem ter filhos. Os gêmeos adotados, Tin e Tina, foram criados em um convento e mostram ter uma devoção religiosa bem pesada que ao desenrolar do filme vira o centro do conflito psicológico muito perturbador.
O ponto forte do filme é a atmosfera de desconforto que não para de crescer, a ambientação da Espanha nos anos 80 e a fotografia conseguiu mesclar o familiar com o sinistro, e põe sinistro nisso. Os gêmeos albinos são todo o centro do desequilíbrio, com sua aparência, comportamento esquisito e convicções religiosas é a espinha dorsal do terror.
No geral “Tin e Tina” é um filme que vai além dos sustos fáceis, provocando inquietação, coloca em xeque as certezas morais e fica preso na mente, especialmente por causa da atmosfera e performance das crianças. Se gosta de terror psicológico é um filme interessante de se assistir, mas não é uma obra de arte esplendida do gênero.
O filme “Tin e Tina” mostra as crianças obedecendo às normas rígidas da fé, que de início parece algo inocente, mas vai se tornando perturbador à medida que o filme avança. Cenas em que as crianças interpretam literalmente versículos da Bíblia para “corrigir” ou “purificar”, como a cena em que sufocam a mãe para que ela veja Deus, ou como a pior cena do filme, quando arrancam o coração do cachorro para purificá-lo, mostra como a crença deles está no nível mais radical.
Um momento decisivo ocorre quando Lola tenta confrontar essa devoção: ela se dá conta de que o que começou como uma educação rigorosa se transformou em imposição de valores radicais, nos quais qualquer desvio — mesmo que emocional, como a empatia ou a dúvida — é considerado um pecado. A tensão aumenta tanto pelas ações das crianças quanto pelo sentimento de isolamento de Lola, que se sente desamparada e desacreditada até mesmo por seu marido Adolfo, que oscila entre negar a situação e minimizar os eventos.
O clímax do filme, apesar de ambíguo, indica que não existe um arrependimento simples nem uma reconciliação completa. O “desfecho surpreendente e bizarro” ao qual muitos críticos se referem reforça que a trama não se trata de derrotar o mal ou restaurar a ordem, mas sim do impacto psicológico irreversível: as crianças continuam sendo enigmáticas, suas ações reverberam, mas não existe uma “solução moral” satisfatória. Para alguns, esse desfecho é frustrante; para outros, é justo, pois reforça a noção de que certos traumas ou crenças não podem ser resolvidos com explicações simples.